quarta-feira, 7 de abril de 2010

A Arte e o Tempo

Candido Portinari - Pipas - 1941

Dizem que o artista ultrapassa o tempo, é imortal. Assim como falam que a arte de viver é saber dar tempo ao tempo. Ainda não sei qual é a vantagem da suposta imortalidade, escancarada até mesmo nas mídias sociais, onde mortos vivem no orkut com direito a homenagens póstumas. Também não encontrei o ponto de equilíbrio entre dar tempo e esperar o tempo passar. Um está relacionado ao outro ou, talvez, seja provável que o tempo nada mais seja do que pura irrealidade.

Sei que o tempo pára quando faço arte, a não ser quando fazer arte tenha conotação de fazer burrices. Aí dá vontade de voltar no tempo, mesmo sabendo que não é possível. Agora, quando a arte é o rascunho de um poema amoroso ou as maõs que percorrem a argila na esperança de nascer um vaso, sinto que tão contrária a si é a sensação do tempo. Os ponteiros do relógio parecem parar.

De qualquer forma, o que mais vejo é a busca frenética pelo ilusório tempo, que foge proporcionalmente ao quão perto chegamos dele. Vejo pessoas correndo e correndo, mas poucas alcançam a plenitude de viver a arte de não pensar no tempo. Se é que de fato existe alguém que não tenha preocupação com o horário a cumprir. Principalmente nos grandes centros, as pessoas geralmente ultrapassam os limites do corpo para fazer o que o tempo não deixa. Trabalham demais, passam tempo demais no trânsito e querem as sobras desse tempo irreal. Migalhas de minutos que substituem as horas de um sono, o sono dos justos.

A consequência disso: casais discutindo a relação no ônibus, antes de ir para o trabalho; mulheres com peles esticadas, fugindo dos sinais do tempo; aparelhos tecnológicos que substituem o "esforço" de perder tempo indo ao encontro do outro; as crianças que crescem antes do tempo, e sequer sabem o que é brincar. Antes que me chamem de saudosista de um tempo que não vivi, digo que brinquei de pega-pega e esconde-esconde na rua, me lambuzei de sorvete com os amigos, empinei pipa, pintei com giz de cera e tinta guache...

Hoje corro atrás de um tempo que não há muito tempo era somente um mar cor-de-rosa!

Por Lívany Salles
Jornalista e poeta, inspirada nos questionamentos que movem o mundo!

Expõe rascunhos eventualmente para o blog

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